QUANTO TEMPO DURA UMA CRISE

Fernando Fontenelle (*)                                   
Outro dia eu estava assistindo, num desses canais jornalísticos, a mais um debate entre especialistas em economia e política, todos apresentando e justificando suas previsões sobre nosso futuro de curto e médio prazo. Alguns tons de otimismo, outros nem tanto, mas não é disso que trata este artigo, pois confesso com muito respeito, que não me fio muito nessas previsões.  Ao longo desses anos, nunca vi qualquer expert indo à
mídia confessar um erro de previsão: “desculpem, senhoras e senhores, mas foi um palpite muito fora da realidade, há seis meses. Estou revendo minhas análises”. Assim como a notícia declaratória, prestada sem prévia investigação ou aprofundamento, sendo tratada como verdade e ocupando, não raras vezes, as manchetes da imprensa escrita e as chamadas das emissoras de radio e televisão.
            Análises à parte, lembremos aqui as ocasiões recentes nas quais ouvimos sobre o inferno que nos era reservado para a próxima década, especialmente os dois ou três anos iniciais. Se por um lado o desastre econômico que se abateu sobre nossas vidas tem parte de sua origem em fatores sobejamente conhecidos, como a incompetência e a corrupção, como entender as rápidas mudanças nas previsões dos analistas? O quadro político é exatamente o mesmo, à exceção de algumas poucas figuras notórias que, por si, se explicam e que hoje estão afastadas por falta de mandato ou por impedimento legal.  Se assim é, a que se deve esse surto de otimismo por parte de quem opina publicamente? Porque órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e agências de risco mudam gradativamente suas expectativas em relação ao nosso futuro, até mesmo para o final do corrente ano?
            Pois se, em cena, nenhum partido político imaculado apareceu, muito menos uma nova figura pública, tipo “salvador da pátria” ou mesmo um mágico de cartola, com sua varinha em riste, pronto para transformar todas as mazelas em riqueza e alívio geral da população.  Ao contrário, são os mesmos personagens, agora falando no modo “nesta fase somos diferentes, pode crer”. Ou “sim, o ministro que fui lá não é o ministro que sou aqui, não vê que minha voz está mais grave e solene?”
            Nada contra e muito a favor, acho que a equipe econômica do atual governo, por exemplo, é um luxo só. Por seus currículos, são quadros muito capazes de consertar as coisas e dar um jeito na lambança que se instalou.  Ressalva à dúvida eterna: vão deixar? Contamos com o milagre do espírito patriótico instalando-se nos corações e mentes dos ilustres congressistas, que vão assegurar nas votações tudo aquilo que é bom para o país, jamais criando qualquer impasse por interesses políticos menores. Crença em milagres é uma forte característica do nosso povo.
            Pouco mudou muito até o momento, mas a reversão das expectativas é um bom sinal. A credibilidade, geradora da mudança de humor acima citada, vem desses técnicos de alto nível que foram colocados em postos-chave, como o Ministério da Fazenda, Banco Central, BNDES e Petrobrás, além de outros por estes escolhidos.  Então é preciso torcer para que cheguemos ao final deste mandato de curto prazo, com as bases criadas para um próximo governo. De quem, meu Deus?!
            Não esqueçamos que a República está vivendo uma fase única em toda a sua história, desde o final do Império, de ações efetivas no combate à corrupção e punição de responsáveis. “Nunca na história desse país...”
            Esse é um elemento indispensável para a restauração da ordem, do progresso e da nossa autoestima. Para que investimentos e empregos voltem a crescer. 

(*) O autor é consultor e sócio da Projeckmarck Ensino Empresarial e Consultoria Ltda., empresa responsável por treinamentos, desenvolvimento e gestão de pessoas.

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